Amor de 2 reais e 90 centavos
Sacomã
cruzam se os olhares
Ipiranga
a aproximação é inevitável
os olhos prendem se
de forma magnética
o espaço
torna se escasso a cada momento
imigrantes
klabin
e o olhar não se desgruda
ao chegar na ana rosa
ambos percebem que não há mais o que fazer
a entrega
as mãos que a seis minutos
estavam guardadas se entrelaçam
no paraíso o movimento é para poucos
mas agora já não importa
as mãos fazem pequenas caricias
os membros tocam se em euforia
desligados do mundo
um beijo que não dura mais que
três centésimos de segundo
ninguém nota
e continuam
brigadeiro
trianon
e o espaço começa a vagar
os corpos desembarcam
e os dois acompanham
cada um pro seu lado
cada qual com sua vida
esse obsceno amor
acaba
na consolação
Jorge F.
______________________________
Abraça-me devagar;
Meia noite...
(Shiiiii)
- Temos que conversar!
Na face descorada, o medo de encarar
Lança a mão sob o ouvido,
já nem a sinto respirar.
Lembro de seu carinho...
tato, paladar...
Mas arrasto uma cadeira, e peço para sentar.
Foram longos anos, como explicar?
Sem muitos danos, tento almenos começar:
- As flores morrem, se agente não regar!
Enxugo suas lágrimas, tentando acalmá-la,
Afago seus cabelos, numa trança imaginária...
- Não chore a partida, da nossa vida,
bem vivida.
Não se entregue a bebida,
com tempo vai passar...
Não a amo mais querida,
não há como lhe ajudar!
Queria colocá-la em meus braços,
quem sabe recompensa-la,
Juntar cada pedaço,
quem sabe voltar, a ama-la.
Lança a mão, sob o ouvido
tentando em calar,
- Mais não a amo mais querida,
não há como te ajudar!!!!
Natalia Pacheco Gomes
Sacomã
cruzam se os olhares
Ipiranga
a aproximação é inevitável
os olhos prendem se
de forma magnética
o espaço
torna se escasso a cada momento
imigrantes
klabin
e o olhar não se desgruda
ao chegar na ana rosa
ambos percebem que não há mais o que fazer
a entrega
as mãos que a seis minutos
estavam guardadas se entrelaçam
no paraíso o movimento é para poucos
mas agora já não importa
as mãos fazem pequenas caricias
os membros tocam se em euforia
desligados do mundo
um beijo que não dura mais que
três centésimos de segundo
ninguém nota
e continuam
brigadeiro
trianon
e o espaço começa a vagar
os corpos desembarcam
e os dois acompanham
cada um pro seu lado
cada qual com sua vida
esse obsceno amor
acaba
na consolação
Jorge F.
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Abraça-me devagar;
Meia noite...
(Shiiiii)
- Temos que conversar!
Na face descorada, o medo de encarar
Lança a mão sob o ouvido,
já nem a sinto respirar.
Lembro de seu carinho...
tato, paladar...
Mas arrasto uma cadeira, e peço para sentar.
Foram longos anos, como explicar?
Sem muitos danos, tento almenos começar:
- As flores morrem, se agente não regar!
Enxugo suas lágrimas, tentando acalmá-la,
Afago seus cabelos, numa trança imaginária...
- Não chore a partida, da nossa vida,
bem vivida.
Não se entregue a bebida,
com tempo vai passar...
Não a amo mais querida,
não há como lhe ajudar!
Queria colocá-la em meus braços,
quem sabe recompensa-la,
Juntar cada pedaço,
quem sabe voltar, a ama-la.
Lança a mão, sob o ouvido
tentando em calar,
- Mais não a amo mais querida,
não há como te ajudar!!!!
Natalia Pacheco Gomes
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Todos os dias, pontualmente, às 18h30min, o Sr. Burns chega em casa, após exaustiva jornada de trabalho.
Pontualmente às 19h30min, a Sra Burns já está com o jantar servido.
Rigorosamente às 20h30min a cozinha já está brilhante e impecavelmente arrumada. O sr. e a sra Burns estão no escritório, fazendo ponderações sobre o orçamento doméstico.
às 21h30min, o Sr. e a Sra Burns já estão com seus trajes de dormir e seus chinelos beges, sentados em seus confortáveis sofás, assistindo atentamente a um programa religioso na TV. Este programa traz valiosas lições de moral.
Exatamente às 23h30min, o Sr. e a Sra Burns já estão posicionados em sua cama box: ele à direita e ela à esquerda. Ela se deita por último e desliga o abajur de cor azul clara. Dão-se um boa noite, viram-se e imediatamente pegam no sono.
Estão agora de volta às suas próprias caixas pretas.
Inexoravelmente.
Exatamente às 23h30min, o Sr. e a Sra Burns já estão posicionados em sua cama box: ele à direita e ela à esquerda. Ela se deita por último e desliga o abajur de cor azul clara. Dão-se um boa noite, viram-se e imediatamente pegam no sono.
Estão agora de volta às suas próprias caixas pretas.
Inexoravelmente.
Elaine Camilo
Lembranças
Na cidade
-rotina de olhos baixos
Num poste distraído
encontras comigo
Na cômica cena
Permuto a vergonha
pela beleza natural
do teu riso incontido
De tão bela
assim sorrindo
esqueci o arranhão
a dor, o poste inimigo
Lembro-me do sorriso
e da tua voz
Lembro-me do quarto de hotel
e da noite quente
Mas não me lembro dos teus olhos
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Descaminhos
Caminhos por onde passa
Labirintos de praças, avenidas , edifícios e casas
Carros apressados ... vem e vão
Tanto tempo sem te encontrar
E mesmo assim, consigo sentir
Sua presença, seu cheiro, seu jeito
E te destacar no meio da multidão.
Este encontro previsto, já é fato.
Marcado, preciso, esperado.
Encontro meu com meu eu.
E nos desencontros da vida
Repara! Não consegue me ver.
Concreto, reparos, faróis e neblina.
Ofuscam a visão, perco-me no meio da multidão.
Como assim? Queria tanto me ver
Calma aí, que onda é essa?
Pra que a pressa?
Será que morri pra você?
Cidade ingrata, tanto que te amei.
Sueli Rodrigues
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Desvios
Desvio na rotina
Uma vírgula
nas frases de palavras embaralhadas
que narravam sua vida
agora grafitada nos muros da metrópole
Rever amigos
fora dali
fora de si
Uma pausa na pressa
Escapuliu desapercebido da multidão
Não via a hora
Não viu a hora passar
Desvio da retina
e de volta,
via agora
o que antes não via
enquanto as horas passavam
nas noites vazias,
enchentes da tensão dos dias
Despausado o cotidiano,
o deserto cinza era o cenário,
a solidão seu par romântico
e a felicidade, apenas um resíduo,
longe do final
Desencontrada dos seus dias,
das suas noites vazias
Esburacada
em algum buraco da sarjeta,
em alguma quebrada,
enclausurada
na prisão concreta da mente
e na prisão de concreto do corpo
E para piorar
(ou ajudar)
a felicidade dava indícios
de claustrofobia
Lucas Bronzatto
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ACONTECEU
Olhos nos olhos,
Mãos nas mãos
Faróis iluminam a avenida
Meio ao reboliço:
Silêncio, lembranças, flores e bombons.
Alheios a multidão.
Sirenes, buzinas, apitos
Quebram o silêncio da hora
Faróis ofuscam a visão
E assim...
Olhos se perdem dos olhos
Mãos se separam das mãos.
Restou a embalagem do bombom.
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Noite de Sexta
João trouxe uma flor
E o coração na garganta
Camila vestido vermelho
Joelho de fora
Ai, que saudade!
E na janela do apartamento
Bem atrás dos postes de alta tensão
O céu se encontra com a terra
No horizonte.
e,
Lá embaixo
(Onde moram os mortais)
Simone atravessa correndo,
Entra na estação
Perde o trem
Quem sabe Eduardo a espera
Mas até a Lua sabe
Que hoje não vai rolar....
Karin Hessel
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I
Deitar a vista no horizonte retangular
e ver lugar pra pendurar as roupas
na tua casa de ossos e sangue.
Esquecer o bairro onde nasci
sentar no bar do centro
da cidade
onde os amigos
são nossos, e a conta simples:
você, eu, eles: cenas de única peça.
e o copo cheio
de metáforas pulsantes.
II
Beber de um gole só
e quebrar o copo
Depois, pegar um taxi e
pelo retrovisor,
despedir dos personagens (que
acenam sem encenação)
e voltar e defrontar-se
com o próprio lar:
um prédio inteiro
(cortiço corpo urbano)
com espaços para novas famílias.
E pendurar a placa
na entrada/saída ocular:
"Aluga-se quartos".
Letícia Mendonça
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Catarse
As palavras
já não dizem: são armas.
Os lábios já
não beijam. Já
punhos cerrados,
procuramos culpados para
nossa náusea na
aridez de nossos peitos
apertados.
O silêncio:
nosso suplício,
nosso mais caro
escarro.
(Já distante
de tanta pulsão tempestade
o tempo para
- engulo o medo,
estrangulo o nojo -
na concêntrica percepção do amargo,
meu vômito
me acalma e me cura.)
As palavras
já não dizem: são armas.
Os lábios já
não beijam. Já
punhos cerrados,
procuramos culpados para
nossa náusea na
aridez de nossos peitos
apertados.
O silêncio:
nosso suplício,
nosso mais caro
escarro.
(Já distante
de tanta pulsão tempestade
o tempo para
- engulo o medo,
estrangulo o nojo -
na concêntrica percepção do amargo,
meu vômito
me acalma e me cura.)
Nitiren Queiroz
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Olhos que se comem,
Saboreiam ao se cruzarem,
Apaixonados, se vêm timidos,
Com sorrisos de lado, inesperados.
Levados, num subito de tempo.
Carros que passam,
Olhares dispersos,
Dissabores esfumaçados.
Perdem-se, ao voltar,
Foi-se.
Juiana Lapa