POESIA - Secreto Tormento


Secreto tormento

Tudo aconteceu tão rápido
Agora as imagens, uma a uma
Sucedem-se lentamente
(35 anos de lembranças cansadas)

São Paulo, mundo para mim desconhecido

Na penumbra dos corredores do velho prédio
Esbarro em pessoas sentadas nas escadas

Ao ver-te não olhei o teu rosto
Não queria ver o teu rosto
(acho que lembravas minha mãe)

Para encerrar a conversa monossilábica
Pergunto onde é o banheiro
-porta aberta, viu?
(Se de nada serviu, pelo menos
A taquicardia abrandou)

Agora me vejo em pé a teu lado
Você delicadamente me toca
Deito-me
Após uma eternidade
De dez minutos
Você se retira

Nada consegui pensar
Naqueles próximos
Dois minutos de solidão

Hoje percebo que aquele foi o hiato
Entre o mundo previsível
E a vida jamais atingida

Airton Mendes
 
____________________________________

TORMENTO SECRETO

Insisto em insistir insistindo
Não desistir da desistência  da saudade
Saudosa de sua presença
Atrás do sucesso de meus fracassos
Esconde-se uma insistente esperança
De fracassar meus fracassos
Reinventar-se é necessário
Jamais fechando os ouvidos
Nem abandonando a história
Enchendo as margens de carinho
Prosseguindo na contramão do comum
Sem arrependimentos
Não entendo porque a vaidade é orgulhosa
Não sou dia pleno e nem uma noite totalmente escura
Talvez seja a madrugada que despede-se à luz da aurora
Queria fugir dos pensamentos que o olhar revela
Represar momentos que o olhar entrega
Silenciar o silêncio da indiferença
Da eterna ausência de tua presença

Adilson Vieira


____________________________________

Decepção

Você chegou inesperadamente...
Me trouxe promessas e esperanças de felicidades, de realizações
Meus olhos brilhavam...
Prometeu diversão, conforto, viagens...
Uma vida melhor, alegria...
Um mundo de coisas boas e agradáveis
Enfim, um pequeno paraíso particular...
E eu acreditei nas suas promessas
Mas fui iludido por você
Sim, obtive muito do que você prometeu
Mas hoje você me cobra caro por tudo o que me proporcionou
E sempre vem sua lembrança, que me persegue cada vez mais feroz
Fico angustiado quando apareces na minha vida
Quando me manda suas cartas...
Perco o sono, perco o apetite, perco a paz...
Mas um dia ainda te parto no meio
Maldito cartão de crédito!

Fábio Rodrigues do Nascimento

_____________________________

Deslises

Perdi um poema
Escrevi, dei-lhe um corpo...
Alma, vida e sedução.
Ficou emocinante.
Falava de outrora
De olhos apaixonantes
Que ficaram frios
Deixando cicatrizes 
No  peito ... 
Um edifício inteiro mortificado
Por enganos,
Insanos julgamentos
Petrificaram um coração.
Agora já não sei mais:
Qual pior tormento?
Os cegos olhos frios que julgaram
Ou ter perdido o poema.

Sueli Rodrigues