CURA
A civilização com seus ares, seus olhares agudos e seus pilares
mais parece a “sifilização”.
Realidade muito antiga,
Desde os indícios de seu florescer.
Socialização complexa
Radical capitalismo,
Guerra pelo poder.
E pra curar esta civilização,
Ziguezagueia entre avenidas
congestionadas,
barulhentas e
cinzentas.
Respirando ares chumbeos.
De espanto tem olhares agudos,
Erguida sob pilares concretos.
Quem sabe:
As Rosas Inglesas ou
as flores do campo.
Quem sabe a cura!
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Cidade
De tão cheia, vazia permanece,
Transborda possibilidades e o nada
o encontra na próxima esquina.
Tem lugar o tudo e as lhufas.
Beijo roubado, paixão perdida
Arco íris brota do lixão,
Vidas tecidas na desigualdade.
Da arte marginal a erudita,
Do inquieto revolucionário ao reaça submisso.
Ambiguidades bebidas.
Juliana Lapa
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A cidade
Na sua frenética rotina,
calmamente,
feito um vampiro
Absorve-me a cidade
Suga qualquer minuto
Rouba-me o sorriso
Deixa-me sozinho...
Contamina meu sangue
Um único vírus:
Eu
Eu
Agora cidadão-vampiro
vou espalhando a doença
Contamino meu vizinho
Vicio meu irmão
Onde está meu irmão?
Em que beco escuro
da cidade
ficou meu irmão?
Precisou de mim?
Precisam de mim
as pessoas?
Não sei
Não tenho tempo
A cidade o sugou...
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Vidas em vãos
Enquanto o trem da vida passa
as pessoas estão preocupadas em pegar o metrô
subir e descer a escada com pressa
o bilhete carregado para a batalha diária
os comentários do futebol de ontem
as contas para apagar amanhã
o ponteiro do relógio troteando com calma
enquanto o trem de aço não passa
Entre o vão do trem e a plataforma
vidas são lançadas
entre pãos de queijo, latas, embalagens plásticas
suicidas
para baixo ou para dentro do vagão
dentre portas automáticas e vozes robóticas
entre solavancos, cegos e mancos
a pressa, o destino, o trabalho, o patrão
Enquanto a estação de metrô não chega
o retrato da cidade escorre pela janela
algum pensamento passa
pelo camelô correndo do guarda
pelo fone do player ou a música no celular
pelo assento preferencial
que um jovem magro e sadio ousou sentar
a vida não parece tão bela
Enquanto o trem da vida passa
as pessoas estão preocupadas em pegar o metrô
depois de meia hora dormida ou acordada
a estação chega
preocupações continuam
a pressa é a mesma
o metrô dinamiza o transporte
encurtando distâncias
pensamento
não há tempo
só minutos
a espera
entre o vão,
o trem
a plataforma
e nada mais
importa
Enquanto o trem da vida passa
as pessoas estão preocupadas em pegar o metrô
subir e descer a escada com pressa
o bilhete carregado para a batalha diária
os comentários do futebol de ontem
as contas para apagar amanhã
o ponteiro do relógio troteando com calma
enquanto o trem de aço não passa
Entre o vão do trem e a plataforma
vidas são lançadas
entre pãos de queijo, latas, embalagens plásticas
suicidas
para baixo ou para dentro do vagão
dentre portas automáticas e vozes robóticas
entre solavancos, cegos e mancos
a pressa, o destino, o trabalho, o patrão
Enquanto a estação de metrô não chega
o retrato da cidade escorre pela janela
algum pensamento passa
pelo camelô correndo do guarda
pelo fone do player ou a música no celular
pelo assento preferencial
que um jovem magro e sadio ousou sentar
a vida não parece tão bela
Enquanto o trem da vida passa
as pessoas estão preocupadas em pegar o metrô
depois de meia hora dormida ou acordada
a estação chega
preocupações continuam
a pressa é a mesma
o metrô dinamiza o transporte
encurtando distâncias
pensamento
não há tempo
só minutos
a espera
entre o vão,
o trem
a plataforma
e nada mais
importa
Leonard Almeida
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PINTURA
Transeunte sem ponto de fuga
Como te desenha a cidade?
- Pessoa bidimensional
Assistente passivo do caos
Passante monocromo
De que cor te pinta a cidade?
-Verde-máquina, cinza-céu
Chumbo-justiça, vermelho-réu
Anônimo garimpeiro de restos
(figura obrigatória da rotina)
Como te vê a cidade?
-A cidade não te vê
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A CIDADE CRESCE
A cidade cresce com pressa
E devagar atravessa o semáforo
No contar dos segundos corridos
Um corrimão moribundo
De carros atrasados
E transeuntes que se embaralham.
A cidade cresce com fome
E devora as ladeiras de barro
Que molham e caem com a chuva
Avalanche de casas
Corpos ensopados no meio fio.
A cidade cresce pra cima
Arranha o céu
Entope as ruas de prédios grandes e
Apartamentos minúsculos
Escritórios de luxo e pombais coloridos
Abrigam e empregam sonhos
Façam sua inscrição, preencham o cadastro.
A cidade cresce pra baixo
Subterraneamente se expande
Desenterra caminhos
Promete atalhos velozes
Os homens andam em bueiros modernos
Toupeiras de primeiro mundo.
A cidade cresce pros lados
Na diagonal das correntes
Perifericamente e constante
Como um polvo desgovernado
Que se espreguiça
A cada manhã.
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Bom dia, Sol!!!
Cospe o marrom fumaçado dos seus olhosE trago, sem ter escolha, tudo que escarras
Trago pra consolo, e principalmente do amanhã,
Lembranças de outros tempos
Oásis de ar puro em território hostil...
Conforto de exilado... Ópio libertador no desterro...
Ânimo, força, incentivo pra prosseguir
(...)
Os pássaros despertam cantando
E enquanto trago meu cigarro,
Um dia novo vai nascendo...
Fábio Rodrigues do Nascimento
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O TEMPO QUE ESPERE
E pare
Em algum estacionamento
Com serviço de manobrista 24 horas
Não descascarei como as tintas
Dos prédios
Desta rua Jurubatuba
Nem vomitarei em óleo queimado
O hálito
Das avenidas (e dias):
= os meus atalhos
Não trafegarei para os becos escuros
Do esquecimento
Nem acolherei os malabaristas dos faróis
Sob o ideal pichado nos outdoors
[de fazer girar (a economia; a cidade; os ponteiros)]
O tempo que espere
Na poltrona
No pátio
Ou no raio que o parta
Que eu só permitirei este encontro
(de espasmos e cabelos brancos)
Em alguma ressaca
Domingueira.Letícia Mendonça
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Dores em decibéis
Na cidade o ronco tosco,
o choro metálico acinzentado geme
o cansaço operário,
o peso da lata de concreto arranhando a pele
dos ombros
dos pedreiros,
dos escombros dos invisíveis andarilhos
balbuciando ladainhas para compor
o mantra polifônico do progresso
- vibração gutural da metrópole
escarnecendo as dores,
profetizando mais solidão
para as nossas síndromes do pânico.
Nitirem Queiroz
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Atemporal
A pobreza do homem como resultado da riqueza da terra
(Eduardo Galeano)
De Cabral a Obama
Da Família Real a Eike Batista
Atemporal submissão massiva
ao Capital
e seus dominados dominantes
De Portugal à multinacional
Do roubo do Pau-Brasil ao roubo da Vale
Atemporal exploração destrutiva
da terra rica
a seu povo pobre
De Pero Vaz a William Bonner
Dos jesuítas ao God-business
Atemporal manipulação massiva
Uns escravizam quando escrevem
Outros em seu Santo Nome vão escravizando
De Tiradentes a Marighella
Dos quilombos às ocupações do MST
A necessária subversão ativa
da ordem vigente
propositadamente silenciada
De seus avós a seus pais
De seus pais a você
Atemporal observação passiva
da ordem vigente
Silenciosa concordância
Lucas Bronzatto
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FULIGEM
Cospe o marrom fumaçado de seus olhosE as poluídas nuvens pairam no ar
Motivados a ver a beleza escondida.
Tudo sujo de fuligem seca
Tudo escuro em plena luz do dia.
Até teus olhos tem este tom marrom.
E o marrom fumaçado de seus olhos
Na escuridão da cidade que corre
Teimam ver beleza azul na escuridão.
Sueli Rodrigues
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Frestas empoeiradas
Na janela cor de vinho
Deitava o queixo
Em seu batente frio
-Lembro-me do cheiro da poeira-
O ferrolho duro preso à tinta fresca
-Que nao secava nunca-
Olhos ávidos
Pediam além das perssianas
Conhecia cada ruga em sua madeira
Os pregos que à fincava
As farpas sem mordaça
Borrifadas de cigarro
Aroma da comida vizinha
Da gasolina em partida
Neste fio de imagens
Ainda lágrimas
Pressa ou nada
Noites negras
Que gelavam as maçãs
Noites claras
que sopravam quente
E ainda aquelas
Que falava em ventanias
Quanto aos dias de chuva
Respingos no rosto
E o tempo escorrido
Pelo fiapo de luz...
Lembro-me de quando abri a janela.
Na janela cor de vinho
Deitava o queixo
Em seu batente frio
-Lembro-me do cheiro da poeira-
O ferrolho duro preso à tinta fresca
-Que nao secava nunca-
Olhos ávidos
Pediam além das perssianas
Conhecia cada ruga em sua madeira
Os pregos que à fincava
As farpas sem mordaça
Borrifadas de cigarro
Aroma da comida vizinha
Da gasolina em partida
Neste fio de imagens
Ainda lágrimas
Pressa ou nada
Noites negras
Que gelavam as maçãs
Noites claras
que sopravam quente
E ainda aquelas
Que falava em ventanias
Quanto aos dias de chuva
Respingos no rosto
E o tempo escorrido
Pelo fiapo de luz...
Lembro-me de quando abri a janela.
Jèmina Diógenes