POESIA - Eu e a cidade



CIDADE EM PÂNICO

Su, a problemática cidade,
onde as coisas aconteciam.
Agora sente fome de gente,
E entrou num stress total.
Com direito a miséria, sofrimento, depressão..verdadeiro

Da marquise de um arranha-céu
Avisto o corredor de Vans
Encostadas nas sarjetas,
Congestionando a avenida
A espera dos turistas.

Partirão da Capital.
Não sei se interior ou litoral.
Travestidos com seus MP3,
guiados pelos GPSs,
seguirão seu itinerário.

Apatia e solidão tomarão conta
das ruas e  calçadas sujas e cheias de chicletes.
Mastigados, jogados e que agora grudam
nas solas de sapatos dos pedestres.
Espalhando  imundície cidade afora.

Sueli! Não vês?
Que esta construção vertical
Acabou com a urbanidade.
Que os finos restaurantes .
Agora oferecem self-service.

Su, a cidade agora é vítima:         
De enquadros noite e dia.
Da síndrome do pânico,
Até seus passarinhos precisam psicanalistas.
Ah! Cidades!

Cães se escondem nos becos.
Estressados, não latem mais felizes.
E os ratos da cidade...
Já não querem mais viver nos esgotos.
Preferem shopping centers sofisticados.

Eh Cidade!

Sueli Rodrigues


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Se o meu canto
soa como gemido cansado
ou sussurro doído,
ruído
entre a auto-estima enlatada
e a prótese risada
de silicone – dez vezes
sem juros no cartão de crédito...

Se já não disfarço
este fastio,
o contorcer das vísceras,
a convulsão
do meu asco espalhando
meus cacos...

É minha aversão ao mundo,
estranha saudade do Éden
movendo lábios,
fôlego
exalando preces de morte ao blasé
modus vivendi cosmopolita.

Time is not
money
but agony...
and work…
and agony…


(Diante dos totens de plastico
e das janelas de plasma com vista
para o vazio,
a mística animista da cotação do dólar
que alimenta cada paixão digital
pulverizada na Rede
trespassa meu fígado dia
após dia. Imploro
para que a lucidez não corroa
minha carne, meus ossos
sob os destroços do mundo -

                                                                                                                                   
O real liquefaz as verdades                                                            
                                                                                                        assépticas                                                                                  
                                                                                                        produzidas em série).
 


















                                                                                                     produzidas em série.)

Nitiren Queiroz

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A vida na cidade, Juliana, é assim:
Desumana, carros - vidas que se trombam,
Barulho dentro e fora do ser.
Viver a cidade, Juliana, é isso:
Poluição, correria insana,
Acorda cedo, dorme tarde,
Sem tempo pra respirar,
E perceber, Juliana,
Jardim em meio ao concreto.
Arvores com suas sombras
descansam pássaros e homens,
que ao final do dia desejam
apenas,
Abraço.

Juliana Lapa



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LABIRINTO DA AGONIA

Entre janelas indiscretas e becos sombrios -
ali estão a apatia, a ilusão e a dor.
Com tantos muros e muralhas e com
muito medo - eis os olhares petrificados.

Dentro dos elevadores e saletas frias, cinzas e pérfidas,
eis aí a claustrofobia.

E mesmo na praça central
com guarda municipal e tudo,
eis aí a ágorafobia.

Ainda que anjos pousassem lá no alto dos
arranha-céus - e caíssem por Amor -
mesmo assim, a ignorância nos vendaria a vista.

Não, Elaine, é melhor saltar no vento
do que se sifilizar.
Um bocejo de tédio logo vira um grito de horror.

Elaine Camilo

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De passagem

Assim que se foi daqui, camarada
pra cá eu vim
trazido pela mesma utopia que nos une

Hoje ao te rever aqui,
de passeio pela metrópole
Também me revejo

Passeio por mim

Me alegro ao ver
que daqui só te restaram as raízes
Perdeu seu tronco de casca dura
seus galhos retorcidos
suas folhas e frutos cinzas
sem flores

Me entristece descobrir
arbustos dispnéicos
crescendo como bosques urbanos
nas minhas mãos
Galhos secos
brotando do meu tronco
tão longe das minhas raízes

Tua serenidade
me leva a crer que
o caos daqui te causava dano
Perturbava essa tua paz de hoje
Que os postes, faróis,
neons e pisca-piscas
ofuscavam tua luz
E que as placas, vitrines,
grafites e manchetes
te confundiam mais do que pensava
E hoje é a mim
que causam dano
ofuscam
confundem
perturbam
essa minha paz de antes

Os arranha-céus e a poluição
são muros bem concretos
que não me deixam ver o mundo
fora da metrópole
Rodoviárias, internet e galerias
são janelas
que preservam outros horizontes
As multidões, avenidas,
o trânsito e a pressa
aumentam as distâncias
entre os de nós
que estamos aqui, camarada
E sozinhos,
como motoboys
na hora do Rush
tentamos fugir do itinerário óbvio
que leva ao estresse e à depressão
Mas até nossa fuga é solitária
O GPS aponta
a dificuldade de se encontrar
nessa imensidão
Nessa imensidão
perdi a beleza das pequenas coisas, camarada
e reencontrei em nossas conversas
o mundo sem muros
as pessoas mais próximas
os itinerários não-óbvios
sem trajetos pré-definidos

Te respeito ainda mais, camarada
Ter idéias comunistas
neste buraco-negro consumista
é valoroso
Manter vivos seus valores
nessa enchente de egoísmo
que alaga as marginais
(e até os marginais)
me motiva a pensar
- Não, não Lucas,
não deixe a metrópole te engolir
não deixe seus valores na sarjeta
Você está só de passagem
sua ida tem volta
Mas por favor,
não demore tanto assim

Lucas Bronzatto

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ENTENDEU, ADILSON ?

Todo passado foi presente
Apesar de toda tecnologia, você ainda sente
Todo passado foi presente
Entende, Adilson ?
Todo asfalto foi lama pura
Com toda tecnologia, buracos mostram sua caricatura
Entende,  Adilson ?
Todo povo se fez do individuo
Mesmo com  toda tecnologia, ouvimos seus ruídos
Entende , Adilson ?
Toda coragem teve seu medo,
Apesar da força, a duvida vem cedo
Toda educação gera sociedade, nação
Apesar de todo conhecimento, toda sociedade gera tipos de escravidão
Entende, Adilson ?
Toda fidelidade gera fé, sinceridade
Apesar de todos os deuses, nem toda fé gera fidelidade, integridade
Entende, Adilson ?
Toda morte já foi vida
Tudo que morre pode renascer, se amarmos, apesar da partida
Entende, Adilson ?
Em todo lamento há uma prece escondida
Apesar da falsa esperança ,
Só chega quem avança
Entendeu, Adilson ?

Adilson Vieira